sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Aos moradores de São Paulo

       São Paulo está voltando ao estado de selva. Um lugar em que não temos mais que nos proteger de leões famintos por nossa carne, mas temos que nos preocupar com cada pessoa que passa a nossa volta num lugar nem tão deserto, ter medo de criancinhas viciadas nas ruas e tomar cuidado com os motoboys em cima das calçadas. Assim como na selva, temos que estar atentos o tempo todo por nossas vidas.
       Quase fui atropelada hoje. De verdade. Estava atravessando a rua da Consolação no farol verde, aberto para os pedestres, quando duas motos e um carro resolveram que iriam fazer uma conversão proibida e estavam pouco aí pros pedestres que estavam passando. Um dos motoboys fechou o carro e seguiu em alta velocidade em minha direção. Comecei a recuar e continuei recuando, mas ele continuava vindo em minha direção.  Eu realmente achei que iria ser atropelada dessa vez. Ele fez tanta questão de me seguir, que um senhor, que também estava atravessando a rua e viu tudo, veio me perguntar se ele estava tentando me assaltar! Talvez estivesse até se divertindo com aquilo...
       E o que me deixa mais triste - quase tanto quanto ser atropelada de verdade - foi a resposta do senhor - um idoso - quando pedi que ele me ajudasse.  Eu estava tremendo e perguntei se ele poderia ir comigo até a delegacia dar queixa  mais tarde - sim, segundo um policial militar que questionei uma vez, nós pedestres podemos dar queixa de um motorista que arrisca nossas vidas, quase passando por cima da nós, como se 5 segundos da vida dele valessem muito mais do que nossa vida inteira, do que continuarmos vivos. Ele me disse que não valia a pena, que iríamos perder 3, 4 horas na delegacia e que não adiantava.  Eu disse que se não fizessemos nada, o motoboy iria continuar fazendo a mesma coisa e um dia iria atropelar alguém de verdade. E ele continuo dizendo que não adiantava, foi se afastando e sumiu da minha vista.
       São Paulo está do jeito que está porque ninguém se importa com o próximo. Existem as pessoas que agem de modo a prejudicar os outros e aquelas que não prejudicam ninguém, mas que também não ajudam ninguém quando é necessário. Só existem tantas pessoas que desrespeitam os outros porque ninguém se une pra dizer nada contra isso. Porque ninguém se une pra brigar pelo que é certo. A verdade é que a maioria das pessoas aqui merece as coisas ruins pelas quais passam porque nada incomoda até que a situação ruim aconteça com elas mesmas.
       Iria nos tomar um tempo ir até a delegacia? Claro que sim. Infelizmente nosso sistema de segurança está longe de ser o ideal. Mas alguma coisa tem que ser feita pra que o que aconteceu comigo hoje não aconteça de novo. Pelo menos não com esse mesmo motoboy. E isso já pode significar uma vida a menos que um dia ele vai tirar agindo com toda essa negligência.  O que vocês acham? As 4 horas que eu vou perder valem uma vida? Eu acho que sim e espero que vocês não discordem...

2 comentários:

  1. Discordo de você. Eu tenho certeza que há milhares de reclamações desse tipo arquivadas nas delegacias. Não vejo como mais uma faria diferença.

    Acho que um email para o seu vereador pedindo leis que aumentem a fiscalização e punam mais duramente os crimes do trânsito teria mais valor.

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  2. Claro que cobrar os vereadores eleitos por nós quanto a segurança é uma coisa que deve ser feita. O nosso dever de cidadãos é o de cobrar o governo para que o que precisa ser feito seja feito. Mas uma coisa não exclui a outra. Não punir uma pessoa irresponsável como essa é o primeiro passo pra ele se sentir livre pra reincidir e fazer pior. E eu vou fazer o que puder pra que ele seja punido pelo que ele fez.

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